quinta-feira, 29 de maio de 2014

ESPERANÇA TUPINAMBÁ PASSA POR MINISTRO DA JUSTIÇA.

CACIQUE VALDELICE E AS DIFICULDADES DO POVO TUPINAMBÁ.


   Valdelice Tupinambá é uma indígena que vive na aldeia ITAPOÃ, na localidade de Olivença, no interior do município de Ilhéus, no sul da Bahia. Cacique de seu povo, Valdelice pode ser considerada a mãe do movimento Tupinambá pela retomada de seu território tradicional. Liderança tão importante entre os indígenas quanto o célebre cacique Rosivaldo Ferreira, o Cacique Babau, Valdelice guia sua aldeia na recuperação de sua identidade como povo e na retomada da cultura passada por seus ancestrais. Guerreira por natureza reivindica justiça e respeito à população tupinambá residente na área sob seu comando. Com voz calma e pensamento claro em relação ao conflito reinante na região que compreende o interior dos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, Valdelice discorre tranquilamente sobre vários aspectos da disputa pela terra em litígio, 47.000 hectares que são requeridos pelos índios tupinambá e pelos fazendeiros, grandes e pequenos, residentes na região.

Com calma e tranquilidade, Cacique Valdelice falou sobre os problemas que afligem seu povo.

   Sobre a proposta de emenda constitucional (PEC) 215, a Cacique se diz contrária a sua aprovação pelo fato de que se daria ao congresso, dominado pela bancada ruralista, o poder de definir quais seriam os territórios que poderiam ser considerados terra indígena. Isso seria como pedir que os madeireiros da Amazônia decidam quais locais seriam possíveis de realizar desmatamento, ou seja, o interesse da exploração econômica prevaleceria sobre o interesse da população residente na região. Isso ocorreria em todo o território brasileiro, não só no sul da Bahia, trazendo um prejuízo incalculável para todos os índios que lutam para que suas terras sejam reconhecidas e que eles possam viver em paz, sem o risco de serem expulsos de suas aldeias para dar lugar a criações de gado ou plantações de soja ou qualquer outra monocultura.

   Em uma das aldeias existentes na região e sob o comando de Valdelice já residem mais de 60 famílias, numa área de 250 hectares, muitas dessas famílias descendentes de indígenas que viviam em situação de miséria nas periferias das cidades da região. A situação das aldeias não é melhor da que existe em muitos bairros pobres das cidades, falta água tratada, não há coleta de lixo ou tratamento de esgoto, doenças de pele e verminoses são casos comuns.  Porém, naquele local, o povo indígena conta com o respeito as suas tradições e com a esperança de um reconhecimento daquele território que traga para eles uma vida melhor e mais digna.
Falta de saneamento básico é um dos principais problemas. Na foto, banheiros da escola, construídos pela comunidade.

   A educação das crianças que vivem nas aldeias é feita de forma especial, em coordenação com a DIREC do município, as crianças tem acesso à educação comum e aprendem também aspectos culturais de seu povo, como a língua e os rituais. Tudo isso é repassado pelos índios mais velhos, os chamados “anciões” e ensinado nas escolas pelos professores e professoras indígenas, esses dignos de um assunto só deles, tal a determinação e o amor ao ensino exigido para que levem conhecimento àquelas crianças. As escolas constam de núcleos pequenos existentes nas aldeias, geralmente numa pequena casa de taipa erguida pela própria comunidade, que foram criados para que as crianças não dependessem de viajar distâncias enormes para frequentar a escola.

   Os indígenas não têm interesse em tomar a posse da terra e prejudicar os moradores da região. Como a posse foi dada pelo Estado Brasileiro, os indígenas cobram que o governo, em suas esferas, repare seu próprio erro e indenize as pessoas que possam vir a ter prejuízo quando deixarem suas propriedades. A contestação dos tupinambás é quanto à posse da terra que foi permitida quando se sabia que a área era indígena, gerando essa ocupação irregular por parte dos produtores. A luta tupinambá recebe apoio de alguns parlamentares, conhecidos lutadores  das causas populares como os deputados Amauri  Teixeira, Valmir Assunção, Yulo Oiticica e Dominguinhos.

   Uma tênue esperança de solução do conflito surgiu da promessa do ministro da justiça José Eduardo Cardoso de que assinaria a portaria de demarcação até o fim do mês de maio, o que, até agora, não aconteceu, trazendo apreensão aos envolvidos, visto que, no mês de junho, o país praticamente vai estar parado, em virtude da realização da copa do mundo da FIFA.
Cabana da aldeia. Local de encontro e de realização de danças rituais.

   O que os índios desejam é que seja aprovada a demarcação e que seja realizado o levantamento fundiário com a indenização para os agricultores da região, o que evitaria o acirramento do conflito por conta da indefinição governamental. A falta do levantamento fundiário e da posterior indenização traria insatisfação e revolta para a parte atingida, o que não seria culpa dos tupinambás. Porém, sendo eles a parte mais fraca do conflito, certamente seriam os maiores atingidos pelo erro governamental.

   Com muita calma e tranquilidade, a Cacique Valdelice fala que, em caso de negação a demarcação de seu território tradicional, seu povo buscará, por todas as vias legais, a recuperação das terras pertencentes aos Tupinambá de Olivença, para que eles vivam novamente com orgulho de suas origens, vivendo da terra e da natureza, tão cara à sua gente e de onde é retirado o sustento de todas as famílias que vivem naquela área, sob as bênção do Pai Tupã e sob os olhos vigilantes dos guerreiros e guerreiras tupinambá que, seguindo o exemplo de sua líder, sabem ser tranquilos nos períodos de paz e valentes nos tempos de guerra.
Confiante, Cacique Valdelice olha em frente, sempre na busca de um futuro melhor para o povo que lidera.

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